A inquietude do ser - ficção de Marciel Cordeiro




Eu gosto de me sentir forte e importante. Acho que todos nós. Ninguém nasce fadado ao fracasso. No entanto, há um sistema que não conhecemos que tenta nos deixar para baixo. Quando criança você sonha, quer ser algo importante quando for adulto. Eu quis ser um monte de coisas, por fim me restaram duas opções. Vagabundo e escritor. Na verdade, acho que sou os dois. Um vagabundo é um intelectual pobre, fica ali garimpando o que todos acham que não presta e o escritor é um vagabundo oportunista. Passa tudo para o papel. Nesses momentos de crise há muita matéria-prima para um escritor. Somos como os banqueiros. Mas os banqueiros querem grana. Lucro. E só. Já um escritor escreve por egoísmo, para dar sentido à vida, ou nem sabe ao certo por que escreve.
Às vezes ficamos improdutivos. Não há nada para escrever. Sentamos frente ao computador e não conseguimos. Tento escrever sobre o amor, esse amor comercial do sistema capitalista, escrever sobre coisas fúteis que parecem importantes para muitas pessoas. Ou uma crítica pesada à política. Não. Isso não é legal. Uns falam que para escrever precisamos de técnica, outros falam em coisas espirituais. Comigo não funciona. É como sexo. Eu escrevo como se fosse uma boa transa. Uma foda. Eu gosto da palavra foda. É mais subversiva.
Nesses últimos dias tenho ficado inquieto. Ando impacientemente pela casa. Falo sozinho e recito uns poemas em voz alta. Canto canções que invento. Eu nunca lembro uma canção por inteiro. Sou péssimo para cantar. Mas é isso. Hoje o dia está lindo. Sol, céu azul e algumas poucas nuvens brancas.







Marciel Cordeiro nasceu em 1992. É estudante de Serviço Social. Publicou o livro Caminho para Texas pela Editora Cousa, 2019. Cresceu em Rancho Queimado na Zona Rural de Alcobaça, interior da Bahia, onde trabalhava com a lavoura e o gado. Desde 2015 vive na Região Metropolitana da Grande Vitória. É escritor e fotógrafo. E-mail: marcielcordeiro2016@gmail.com



curadoria e edição de marcos samuel costa

Variações revista de literatura contemporânea
2020
I edição 

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