“A mosca” – poema de Paulo Nunes





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“A mosca” 

Ela grifa um som de ópera
(se non è vero, è molto bem trovato)
É seu olhar panorâmico
que afina instrumentos;
e assim mesmo se narra,
vinha de olfato,
com suas pernas manquitolas,
não tortas: absortas, de passista.

Aguarda a presa
e ao fazê-lo
desvia suas antenas
como asas de zinabre
e me olha meio tosca,
um quê branca
como se gostasse de projetar o futuro do pretérito,
meu passamento.

Eis que vejo meu esprei antisséptico:
o dicionário,
e a sinalizo, inseto repleto
de esses e zês que namora o abismo
sobre o meu armário de abecês.

O dedo já não jura em apertar
a válvula do inseticídio.
                                               Belém: Mosqueiro, Carananbuda: janeiro de 2020



Paulo Nunes é Paraense de Belém; pesquisador da Universidade da Amazônia, Belém-Pará;
Autor de didáticos, integrou, com Josse Fares e Josebel Akel Fares o grupo Texto e Pretexto; autor de uma trilogia de poemas para Belém: Banho de Chuva (em 7 edições), O Mosquito qu’Engoliu o boi e Baú de Bem-querer. Traço-Oco, livro de poemas, foi listado entre 0s 44 semifinalistas do prémio Oceanos de Língua Portuguesa, em 2019.

Jornalismo Cultural: Paulo Nunes e os livros que habitam sua cabeceira

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