ANA MEIRELES EM "QUINTA DAS CRÔNICAS"


ANTE O BANQUETE DA SERVIDÃO! 

Sentou-se aos pés da caneta com intenção de escrever. Vacilava entre um pensamento e outro que enviesava os sentimentos. Articulava palavras que pareciam vir de um longínquo mundo desconexo. Mas, aí, sentia quanto era importante unir as pontas e decifrar o fio da meada consciente da desconsolável utopia.

Era um país tão gigante, de dimensões continentais. Povo e população, um conjunto e um todo diverso. Multidão, Multi-línguas, multi-pensares, multi-cores, avessos e a-versos, adversos, diversos em verdades e mentiras, discrepâncias e sintonias afetuosas. Constituição sui-genere de vocabulários e idiossincrasias. Alternavam-se em disputas, a velha e histórica condição de “quem vai estar no poder”? Quem vai limpar os pratos sujos para, no banquete da multi-servidão,  novamente servir a comida de enganar?

Grande parte da população continua bebendo água de rios poluídos, mas,  poluído, se sabe que não é somente a água dos rios. É a mentalidade das gentes , as pobres, as ricas, as fortunadas e desafortunadas. A pobreza não é só miséria física, a pobreza é miséria moral. E neste sentido muitos não têm sequer um travesseiro para deitar a consciência.

A ambição desmedida, a vaidade, o orgulho, a inveja e o ódio se mesclam em disputas e tomam de vez o lugar de descanso da alma. Salvação pra quê ? Se o poder, a riqueza, na materialidade da vida, é o céu e também o inferno. Que importa? Os leões foram soltos no momento aprazado, foi o que havia sido acordado - O Supremo Acordo! Devorados seriam sempre os que as vestes rotas identificam o lugar de sempre: Excluídos! A arena sempre e sempre , esteve aberta para a ocasião dos Espetáculos Globais. O mundo ainda é o decantado palco onde se ensaia a retórica da hipocrisia, a que enxerga limpeza onde há atendimento dos interesses de classe.

A que enxerga justiça mesmo quando há atropelamento da lei; A que não enxerga o homem agindo como Lobo sobre o seu próprio semelhante. A retórica dos vendilhões da alma, os que no auge da precária e tacanha percepção, perseveram atribuindo a culpa da contumaz corrupção com o olhar propositado numa única direção, porque a moral  é míope e tupiniquim. Daí que, sem alternativa de solução , ainda por muito tempo, o Brasil carregará a fama de República das Bananas!

           
ANA MEIRELES - é poeta e cronista - nasceu em Icoaraci Distrito de Belém do Pará em um belo
domingo de Páscoa como dito por sua querida mãe Leila. Atualmente é servidora
pública com formação em psicologia pela UFPA. Tem diversos livros publicados,
entre poesia e crônica, esse ano faz sua publica seu primeiro livro infantil. 



curadoria e edição de marcos samuel costa
Variações revista de literatura contemporânea
2020
I edição 

Comentários

  1. Contumaz observação, e crítica social. Até quando nossos representantes se venderão pelo poder? Temos um país rico, mergulhado na ignorância que traz miséria, mazelas e indignidade aos seus.
    Parabéns, Ana Meireles! pelo seu texto de reflexão.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas