Costumes Bárbaros da Gentilidade - poemas de Danielle Fonseca




Costumes Bárbaros da Gentilidade


Fora o que contam a história e as gravuras de Hans Staden, soube através da 
literatura que as árvores, os índios e os surfistas tinham hábitos bem parecidos no 
início do que todos chamam de tempo.
O primeiro hábito identificado foi o da autoflutuação, os três gentis gostavam de 
praticar a soltura do corpo principalmente na hora das enchentes mais temidas ou 
pororocas e ir em seguimento com o fluxo do rio destituídos de qualquer 
aprisionamento ou órgãos.
Outro hábito percebido foi o de colecionar desenhos no próprio corpo, fosse pela 
força dos dentes de macaco pressionados na pele, fosse pela força das horas 
expostas ao sal e sol que abria vincos rugosos nos rostos e troncos.
Porém, o costume mais marcante entre as árvores, os índios e os surfistas era o de 
transformar (uma quase defesa às adversidades) as pernas e braços em espécies 
de rizomas: raízes sem começo nem fim, resistentes e na maioria das vezes muito 
úmidas, algumas semelhantes às heras, outras semelhantes às murtas, mas todas 
muito espalhadas, feito ramos sem nenhuma compostura.


Formiga de Fogo


Eu, calmo feito um Rei.
Numa enchente amazônica.
 Numa explosão atlântica.
Pés vermelhos como se tivessem sido lavados no resto 
de água da cova encantada onde Macunaíma se lavou 
inteirinho.
 O ardor veio aos poucos,
 a ferroada veio antes.
A poesia é essa formiga de fogo que fez seu ninho no 
meu quintal
entre um pé e outro de falso-jasmim.




Danielle Fonseca - Belém, PA, 1975. Vive e trabalha em Belém, PA. Representada pela Kamara Kó GaleriaFoi Indicada ao PIPA 2016. Sua poética é composta a partir de elementos da literatura, poesia, filosofia, de música e da paisagem. Participa de exposições, projetos artísticos e literários. A artista possui obras em acervos de: Casa da Cultura da América Latina da Universidade de Brasília; Museu de Arte Contemporânea Casa das Onze Janelas – Belém/PA; Museu de Arte de Belém (MABE) – Belém/PA; Museu de Arte do Rio (MAR) – Rio de Janeiro/RJ; Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR) – Curitiba/PR; Museu de Artes Plásticas de Anápolis – Anápolis/GO; Fundação Rômulo Maiorana -Belém/PA; Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) – Porto Alegre/RS.





curadoria e edição de marcos samuel costa
Variações revista de literatura contemporânea
2020
I edição 



Comentários

  1. Força eexpressia, incongruência lírica e refinada novidade. Gosto muito

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  2. Versos que abriram uma porta no meu pensamento. E eu passei.

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