O ressignificar das flores - crônica de Cleunice Lemos




O ressignificar das flores


Quando somos fisgados pela exuberância das flores, deixamos de ser nós mesmos e mergulhamos em um mundo de sentimentos, mesmo se estivermos atormentados pelo tempo. Isso ressignifica - em nosso íntimo - as emoções tão escondidas e cautelosas dos seres interiores dos quais somos feitos. Pelos matizes elas nos invadem e ditam a beleza, o amor, o afeto e a brevidade de tudo. E, assim, ficamos expressivamente refletidos entre as dualidades desses espelhos simbólicos que se revestem de significados.  

Mais impactantes em certas ocasiões, as flores impulsionam as densidades dos afetos e reproduzem as singularidades dos sentidos. Imersos na leveza desses matizes – que se desabrocham fisicamente ou pelos ciberespaços – somos revestidos pelo encantamento. E a metáfora dos sentimentos permeiam as singelezas desses universos de cores. Mesmo se andarmos distantes desses encantos que se irradiam dos jardins ou de quaisquer espaços, esses emaranhados de mistérios cercarão nossos íntimos e dirão para que vieram. Logo, as furtivas insignificâncias que muitas vezes trazemos internamente cederão espaço a essa natural conexão.

Sem darmos conta, as flores, incessantemente, não alteram a escala invasiva. Elas nos ensinam que a beleza é frágil e breve; que o amor ressignifica tudo o que contemplamos e apreciamos, ainda que seja breve. O emergir desses formatos e espécies nos embalam e insistem em adentrar onde nos escondemos da voz que pulsa, do amor que transborda, da saudade que fica ou do desejo que ainda vive. É nesse mergulho que se perdem muitos olhares de profunda apreciação.

As flores! Não nos desocupemos delas. Vinícius de Moraes em seus diversos arranjos em versos, canções e exibições cantava a Rosa e outras flores. Elas estavam lá amadas, colhidas ou despetaladas. Aqui, nos sonhos, elas se romantizam em um profundo suspiro de amor; às vezes, transbordam-se em dor ou em silêncios. Portanto, é preciso transver essas existências e aproximar os olhos das abstrações contidas no mais misterioso íntimo dessas infinitas cores.




Cleunice Silva Lemos, poetisa e cronista de Taiobeiras-MG, é Mestre em Letras, especialista em Linguística, Leitura e produção de textos. É professora da Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais, uma das organizadoras do livro infantojuvenil O caderno de Camila (Autografia, 2018) e autora de Quando o Silêncio é a poética do tempo (Folheando, 2019).




curadoria e edição de marcos samuel costa
Variações revista de literatura contemporânea
2020
I edição

Comentários

  1. Crônica linda!!! Resgata sentimentos profundos de diferentes épocas e fases da nossa vida. Parabéns mana querida.

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  2. Simplesmente, fantástica! Ah, que a linda magia dos seus entusiasmos pelas palavras não se calem nunca!

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  3. Crônica belíssima. A leitura foi como estar num jardim aspirando o perfume de diferentes flores , cuja afinidade em comum é a pureza, a delicadeza. Obrigada! ��

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  4. Que bela crônica, Cleu! Parabéns!👏👏👏😊

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