ENTREVISTA COM A POETA ANA CAMPOS - Por Gigio Ferreira.
Ana Campos – Escritora e ativista cultural. Curitibana, 38 anos. Autora dos livros “O Cortiço da Poeta” (coletânea de poesias) e “Uma História de Amor Nada Romântica” (romance cômico) além do Blog da Ana Campos. Idealizadora e editora da extinta Revista Curitiba Suburbana.
Gigio Ferreira pergunta: A poesia é a grande frase melódica da alma vagante? Por quê?
Ana Campos responde: O éter poético, indefinido, que sobrevive em todos os Homens, mas que se dilata apenas no poeta é manifesto através do conjunto de sua obra. Se isso trata de uma frase melodiosa? É interpretação individual, uma possibilidade plausível, embora não seja este meu ponto de vista. Creio de uma maneira muito íntima, que minha alma vagante às vezes assenta numa sombra sonora e cala-se ouvindo o universo, então isso é som e silêncio, é luz e escuridão, é quente e frio, é o horror e a beleza, isso é a poesia, sem cânticos, apenas o remanejo da realidade insípida para alguma coisa mais respirável.
Gigio Ferreira pergunta: Estar comprometido com a língua é colocar o tempo fazendo sentido na frase? Por quê?
Ana Campos responde: De forma alguma! O que a poesia tem a ver com sentido? Sentido é uma bússola que orienta o Homem físico na geografia concreta. A poesia está livre dessas mediocridades.
Gigio Ferreira pergunta: A coloquialidade é manha de quem? Por quê?
Ana Campos responde: É de todos nós, na maior parte do tempo, mas o malandro da língua a utiliza como quem dissesse: Sou o antipoeta, o que já passou dessa fase, o que faz um poema com uma mão só e de olhos fechados, não preciso me ater às formas e normas. Sou um mestre e faço poesia com a simplicidade.
Gigio Ferreira pergunta: Você já fez algum acordo com os danos espirituais sofridos por você ou por alguém? Por quê?
Ana Campos responde: Renovo meus pactos todos os dias para conseguir me levantar da cama, dou minha poesia em troca da imortalidade e assim sobrevivo. Cada dor, decepção, fracasso, mágoa, vazio, ou desespero se transforma em um poema e a poesia é mais bonita quanto maior for à tristeza. Não que na alegria também não haja beleza, mas nada se compara à remissão de uma lágrima.
Gigio Ferreira pergunta: Quais os sentimentos que mais precisam das entrelinhas?
Ana Campos responde: O amor romântico, platônico ou proibido, o tesão reprimido, o ódio oculto, a ambição desmedida e tudo aquilo que sofre censura, seja de outrem ou de si mesmo. Para isso existe a poesia, o dizer sem dizer e o não dizer explícito, esse jogo onde a única regra é a expressão e no qual apenas sobrevivem os que têm o feeling de poeta.
Gigio Ferreira pergunta: Qual é a melhor profissão para a tristeza? Por quê?
Ana Campos responde: Toda profissão que não seja prazerosa a quem a exerce, é triste. Por outro lado, se a tristeza aqui estiver ocupando o lugar do sujeito e se esse sujeito fosse escolher uma profissão, não seria outra, senão ser Poeta. A tristeza se pudesse, certamente escolheria ser Poeta, não tenha dúvidas, no entanto, isso a faria feliz, então, é um paradoxo rsrs...
Gigio Ferreira pergunta: O teu vazio consegue ser belo? Por quê?
Ana Campos responde: Às vezes sim. Na maior parte das vezes ele é só um vazio, a beleza sou eu que invento quando o transformo em poesia, mas ainda assim, como o conceito de beleza é relativo, essa beleza poética também é relativa a quem olha.
Gigio Ferreira pergunta: Entre o mármore e a carne... A tua imaginação opta por caçar quem?
Ana Campos responde: Como na música de Milton Nascimento composta por Sergio Magrão e Luiz Carlos Sá, sou o “caçador de mim” e eu estou sempre oscilando entre uma coisa e outra, é sempre o indefinido.
Gigio Ferreira pergunta: A saudade é um atrito ou ela apenas dorme de olhos fechados? Por quê?
Ana Campos responde: A Saudade? É uma colisão de frente com o vazio. O reencontro é a ressurreição.
Gigio Ferreira pergunta: A realidade brasileira é um palíndromo?
Ana Campos responde: É sim. Da direita pra esquerda, da esquerda pra direita, no final, hoje, é tudo uma porcaria só.
Gigio Ferreira pergunta: O que você achou dessa entrevista ao Jornal Crescendo em parceria com a Revista Variações?
Ana Campos responde: Um vestibular para Poetas. Adorei!
Gigio Ferreira nasceu no dia 22 de junho de 1967, em Belém do Pará. Cursou Letras. Sua estreia se deu com a publicação da dramaturgia infantojuvenil, O gringo da Matinta (2014), em parceria com a escritora Miriam Daher, pela Editora Giostri-SP. Com exceção do livro O Palhaço de Arame Farpado (2016), poesia, pela Editora Penalux, as suas oito obras publicadas, foram pela Editora Giostri. Atualmente possui dezoito livros inéditos aguardando publicação.



.jpg)
Comentários
Postar um comentário