01 poema de Helton Jones Rocha

(Elza Lima)


Eu ainda me lembro 


Eu ainda lembro-me daquele tempo  
Quando éramos jovens e livres  
Corríamos sem medo pela mata  
Entravamos no igapó  
Com a água às vezes na canela  
E aquele cheiro de lama  
 
Aquela água podre, parada e de tantas cores,  
Até hoje não sei o que era aquilo.  
Mas não havia barreiras  
Éramos aventureiros  
Eu ainda me lembro dos pulos no trapiche  
Dos voos de cabeça  
Do camburão cabeça, da pedra e da piscina  
Tinha que subir água  
Tinha que ter chuveirinho  
Água no ar feito chuva  
 
Era tanta alegria  
Nem a pele enrugada nos tirava da água 
Nem o medo do boto nos punha pra correr  
Nada, absolutamente nada era mais importante. 
 
Eu me lembro daquele sentimento 
Daquele sentido de estar vivo  
Da pira cola  
Dos dois times imensos  
Do cipó 
Da brincadeira do "mata" 
"Bora um mata" dizia alguém 
E tudo aquilo tomava uma tarde inteira 
 
Eu ainda me lembro dessas coisas  
Dessa fase 
Dessa época 
Daquela leveza e imortalidade 
Sim! 
Éramos Deuses imortais  
Não conhecíamos o medo e o perigo  
Corríamos feito louco entre as árvores  
Mergulhávamos por baixo das tronqueiras 
E nos jogávamos do alto das árvores  
Ainda lembro  
E é bom lembrar 
Não sei até quando 
Não sei o por quê. 
 
Quando lembro, 
Eu ainda sinto aquilo  
Aquela energia  
Aquele desejo de ser conhecido como Boto  
Aquele desejo de ter guelras  
De ficar um bom tempo lá em baixo 
Eu ainda me lembro de tudo  
Ainda me lembro. 




 Helton Jones Rocha, idade: 35 anos; Servidor Público; compositor e escritor; Residente no município de Irituia-PA.



 Variações: revista de literatura contempôranea 

IV Edição
Edição de Marcos Samuel Costa
Março de Vozes Amazônicas 
2021


Comentários

  1. Que alegria ter um texto divulgado por iniciativas como esta da revista Variações. Muito obrigado pela oportunidade.

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  2. Parabenizo a iniciativa e me congrstulo com o novo poeta

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