ENTREVISTA COM DANILO HEITOR
Entrevista concedida por Danilo Heitor para Marcos Samuel Costa, da Revista Variações, em 08 de setembro de 2024.
01 - Danilo, fale um pouco do teu processo de escrita. E, além disso, conte-nos também de ti, quando esta escrita começou e por que ela começou?
D. H. - Escrevo desde criança, por incentivo da minha mãe. Sempre gostei de inventar histórias e, depois de um tempo, escrever sobre as coisas que me acontecem. Na adolescência, escrevia zines punk e letras de música, depois tive um blog de crônicas e, esporadicamente, algum conto. Lembro que produzi um zine de contos onde cada conto era inspirado em uma letra da banda que eu cantava. Durante a pandemia, comecei a criar contos em cima de acontecimentos do meu cotidiano, e depois de alguns percebi que dava um livro. Assim nasceu meu primeiro livro publicado, Consigo, que saiu em 2021 e que se passa nas cidades imaginárias de Quarentena e Isolamento. Eu diria que meu processo de escrita acontece muito assim, a partir de coisas que acontecem me inspiram alguma história. Meu último livro, que está em pré-venda, também é de contos e todos eles surgiram de ideias assim. São 25 contos de ficção científica pensando em tecnologias ou situações inusitadas. E se os celulares transmitissem cheiros? Ou existisse um androide sexual configurável para satisfazer qualquer fetiche e performar qualquer gênero?
02 - Como se manifesta a tua escrita, quais caminhos, tempos de escrita e pausa, quem é o escritor Danilo?
D.H. - Acho que ela se manifesta de uma forma um tanto errática. Devo ter uns cinco projetos de livro que, aqui e ali, voltam na mente e me fazem rascunhar ideias, caminhos, roteiros, cenas. Sentar e escrever, mesmo, já são outros quinhentos. Eu funciono bem até com desafios literários, que têm um prompt e uma data. Mas, com as minhas próprias ideias, dependo de tempo e empolgação. Quando vem, eu sento e deslancho; depois passo dias sem mexer naquilo. Mando para pessoas lerem, peço opiniões, ajusto ponteiros, e quando acho que está do meu agrado, tento colocar no mundo. No caso dos livros, ainda passo por uma leitura crítica, fundamental para deixar tudo redondinho. Aconselho todo mundo que escreve a fazer isso!
03 - Fale-nos do teu novo livro, dos percursos que te levaram até ele ou como Quase agora chegou até a ti?
D.H. - Quase agora é fruto de um processo de três anos participando de desafios de escrita em coletivos de escritores, principalmente os da Revista Mafagafo e da Editora Escambau. São coletivos voltados para quem gosta da ficção especulativa, o insólito, a fantasia, o terror, e dentro desse recorte eu sempre acabo indo para o lado da ficção científica. Vários dos contos desses desafios acabaram sendo publicados em newsletters, antologias e revistas, até que uma hora eu decidi juntar todos em um mesmo livro. Na hora de organizar, acabei dividindo os 25 contos em 4 seções: tecnologias, viagens, distopias e utopias. As histórias variam entre o humor, o suspense e a aventura, muitas delas dentro do que costumam chamar de slice of life, ou seja, um olhar sobre o cotidiano, sem grandes heróis ou conflitos.
04 - Buscas uma escrita que se aproxime do que ou que se afaste do quê?
D.H. - Escrevo sempre tendo minhas experiências e meus sonhos como horizonte. Nem toda história tem uma causa, uma bandeira, mas todas elas estão atravessadas pela minha forma de ser e de ver o mundo. Impossível ser de outro jeito. O caminho da escrita, para mim, precisa ser prazeroso e ter sentido, então não consigo escrever gêneros ou temas que não me interessam, ou escrever algo que seja voltado para um mercado específico. Escrevo para me desafiar a entender o mundo, processar sentimentos, projetar ambições. Só sei escrever assim.
05 - Quais são tuas principais referências no processo de escrita desse livro novo?
D.H. - Bom, muitas. Mas algumas sempre presentes são Ignácio de Loyola Brandão, Ursula K. Le Guin e Octavia Butler. Também me inspiro bastante nos meus colegas de coletivo, como a Raquel Setz, a Giu Murakami, o Lucas Cronópio, o Douglas Domingues. E admiro demais a obra da Fernanda Castro, autora pernambucana, do Moacir Fio e do Wilson Jr., cearenses, e da Jana Bianchi, paulista. Posso dizer que, de uma forma ou de outra, todos eles são referências para mim.
06 - Indicarias uma playlist para esse novo trabalho?
D.H. - Não costumo criar playlists associadas à escrita, mas posso citar dois discos: Moment, da banda alemã Tidal (https://tidal5.bandcamp.com/album/moment-2), e The Earth is not a cold dead place, da banda americana Explosions in the sky (https://www.youtube.com/watch?v=veMONQwn7W8)
07 - Onde comprar teu livro novo?
D.H. - Na página da Editora Folheando
https://www.editorafolheando.com.br/pd-96e0f3-quase-agora.html
*Comentário do autor feito na época da pré-venda: “Quem comprar na pré-venda pode pedir um conto exclusivo escrito por mim a partir de uma ideia da própria pessoa”.
Danilo Heitor vive em São Paulo e é professor de Geografia, anarquista e corinthiano. Lançou seu primeiro livro de contos, Consigo (Primata), em 2021. O segundo, Todos (Escambau), uma ficção distópica, que saiu em 2022. O terceiro, outra ficção distópica, Tanque de areia (Urutau), saiu em 2023. Publicou ainda o diário de viagem 45 dias de Norte (autopublicação, 2022) e o livro de crônicas Da rodoviária para o mundo (Campo ou Bola, 2024). Tem também contos publicados em antologias, revistas (Subtextos, Alinhavos) e newsletters (Pulpa, Faísca). Mantém a newsletter “Antes do fim”, assina uma coluna sobre ficção científica na Revista Especular. Tem um conto em inglês publicado na revista Strange Horizons. Pode ser encontrado nas redes sociais em @kadjoman e no site www.daniloheitor.com.br.
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XII Edição, ano III - lâminas, línguas e Eros
Edição de Bruno Pacífico
2024
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