Bula - Gutemberg Armando Diniz Guerra
Bula
Gutemberg Armando Diniz Guerra
Deve estar em algum lugar dessa caixinha que se chama corpo, em letrinhas tão pequenas que não conseguimos ler, a bula do que se chama vida. Produto feito e colocado à disposição no planeta terra, até onde se conhece de sua existência, a pergunta permanece exigindo respostas que o ser humano elabora e expressa em verso, prosa, música e todos os recursos que lhe vieram embutidos.
A parte material pode ser descrita como de fato vem nos exames laboratoriais e de imagem que fazemos a cada vez, como rotina ou por conta de algum desarranjo no complexo sistema de funcionamento de nosso corpo. Não vou listar os componentes materiais pois são tantos que se pode considerar infinitos. Assisti certa vez a uma palestra do famoso médico espírita paraense, o doutor Alberto Almeida, em que ele falou da profusão de elementos físicos que povoam o corpo humano, renovando-se em turbilhão e fazendo que cada órgão deixe de ser se refazendo a cada período, de formas que fisicamente, os átomos que nos compõem são de tal maneira substituídos que, a rigor, somos como diria o saudoso compositor Raul Seixas, uma verdadeira metamorfose ambulante.
A bula da vida tem, porém, além da parte física, aquela que o ser humano com toda a sua inteligência, natural e artificial, ainda não conseguiu captar e expressar e por isso é dita metafísica, além da percepção pelos cinco sentidos. O movimento, a animação, a anima, a alma, o espírito e tudo isso que nos faz ansiosos e angustiados porque se esconde e desaparece quando a física se imobiliza, deixa de se movimentar, de respirar, de vibrar e assume conceitos os mais diversos, tristes e melancólicos, sempre, mesmo que para ele inventemos eufemismos para nos consolar.
Tivesse o ser humano a capacidade de ler a bula de si mesmo saberia reanimar seus entes mais queridos, e mesmo os menos amados, apenas para se regozijar de ter desvendado esse mistério que as letras miúdas de nossa ignorância não nos deixam ler. Mais do que isso, teria cada um como se cuidar melhor para não sofrer esse momento duro da parada, do estancamento, do se colocar diante das não respostas aos estímulos de afeto, de carinho, de afagos, cheiros, beijos e abraços.
Deve ter, nessa mesma bula as doses recomendadas para cada idade, com todas as indicações e contraindicações, conforme as situações de cada paciente.
Dadas as dificuldades para se compreender por si mesmo, recorremos a alguns especialistas como os médicos, os farmacêuticos bioquímicos, enfermeiros, psicólogos e muitas outras modalidades de experts, que têm mais intimidade com essa bula do que outros e, embora dediquem toda a sua vida a compreender os procedimentos mais corretos para lidar com esse produto divino, ainda se atrapalham diante da complexidade e variações a que ele está sujeito.
Listamos acima tanto os que tratam da parte física como alguns que tentam adentrar na parte metafísica, como os psicólogos, estudiosos da alma humana, a psiquê. Há outros que se utilizam de recursos de comunicação extra sensorial e que se habilitam via mecanismos atribuídos à revelação feita pelas divindades em escritos sagrados ou em manifestações das mais diversas formas. Os cultos se revestem desse lado mágico de desvendamento da bula da vida na terra e em outros lugares para onde se deslocariam os movimentos do ser humano ao desencarnar, viajar, passar para outro plano, findar, morrer. Sacerdotes, padres, pastores, ministros do sagrado, ogans, babalorixás, mães de santo são os nomes dos leitores dessa bula que os pobres mortais não conseguem acessar nas farmácias do mundo.
Há os que pretendem que essa bula está no Alcorão, outros no Talmud, outros na Bíblia de 72 ou 66 livros. E há também os que produzem bulas crendo estar dando todas as informações para que se possa ser feliz!
Enquanto isso, depois de uma pesquisa muito inteligente feita pelo poeta e compositor Gonzaguinha, interrogando a um público diverso, ele resolveu ficar com a pureza da resposta das crianças: a vida, é bonita, é bonita e é bonita.
Sigo no mesmo tom!
Saudações agroecológicas!!
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