O livro que suga & outros contos. Belém: Amazônica Bookshelf - Por Gutemberg Armando Diniz Guerra
PEREIRA,
Franz Kreüther. O livro que suga &
outros contos. Belém: Amazônica Bookshelf, 2022.
Por Gutemberg Armando Diniz Guerra
O universo literário produzido na Amazônia
é mais extenso do que se costuma pensar, principalmente para os que se
encontram fora da região e não têm acesso ou interesse suficiente para a busca
de como é efervescente esse meio. Li e passo a resenhar O livro que Suga & outros contos, de Franz Kreüther Pereira, a
quem tive o prazer de conhecer em evento de resistência cultural promovido pela
Editora Paka Tatu, em Belém do Pará, em 2025.
A capa do livro induz a que mistérios de
outros mundos possam ali se encontrar, principalmente quando se presta atenção
ao título que salta em um branco contrastando aos olhos sobre um fundo negro em
que um estranho e conhecido objeto ali se deixa vislumbrar em uma cena macabra.
Uma mão mumificada sobre um livro grosso com um fecho em formato de crânio
descarnado atiça a quem gosta de filmes e literatura de suspense e terror.
O prefácio assinado por Daniel da Rocha
Leite, autor muito reconhecido pela competência como crítico e qualidade
literária do que vem produzindo em prosa, poesia, conto e literatura em
diversas modalidades, é um aval que induz, desde logo, a uma imersão no que vem
disponibilizado pelo livro aqui resenhado.
A criação nos contos de Franz Kreüther
Pereira humaniza, dando corpo e alma a letras, palavras e livros, estabelecendo
relações destes com os seres humanos como se tivessem todas as propriedades
destes. Livros adoecem, seduzem, encantam, enfeitiçam, têm ciúmes,
personalidade e poderes de dominação exercidos com toda a intensidade como se
fossem entidades.
Os contos, em número de oito, não têm, a
meu ver, a estrutura que se costuma dar a eles, nem eles vêm sós. Costumam ser
acompanhados de reflexões sobre a relação dos leitores com os textos e com os
seus suportes. Suas reflexões me fizeram lembrar de uma conferência do
professor Benedito Nunes sobre o livro e seus autores, do fascínio que essa
tecnologia ele exerce sobre os homens a ponto de serem sacralizados e terem se
tornado ídolos de muitas civilizações. Nem todo livro é considerado ou alçado à
categoria de sagrado, mas todos eles exercem um poder sobre o leitor que
poderia ser refletido como tal. E todo escritor, para o professor Benedito
Nunes, tem a aura de inspirado, movido ou escolhido por entidades divinas.
O primeiro conto trata de uma suposta
moléstia que alguns livros teriam adquirido como uma espécie de lepra que lhes
faz perder letras com uma certa lógica e supostamente a partir de certa idade.
O conto que dá o título ao conjunto da
obra é, certamente, o mais impressionante, o que prende a atenção do leitor e
possivelmente terá sido o que mais trabalho de elaboração deve ter dado ao
escritor. Ele tem uma semelhança com a literatura policial, mas inclui
elementos preternaturais que findam dando gancho para outras estórias, uma vez
que não elucida completamente a autoria de um duplo crime que mobiliza
personagens em três distintos estados do país. E deixa uma possibilidade de
outros contos derivarem, dando continuidade a este inconcluso...
A habilidade de fazer render uma estória é
virtude do autor que desdobra sua narrativa em detalhes e imagens humoradas,
com personagens vestidas de cotidiano popular em cidades grandes ou vilarejos,
em cenários que permitem a ligação entre a matéria e as almas de finados sob as
mais diversas condições. Sono, sonho e realidade se confundem nos contos que
vão sendo desfiados um a um com a destreza de quem treina ou fez estágio na
escola de Sherazade.
Franz Kreüther Pereira demonstra
personalidade em seu estilo e merece ser lido e participar do diálogo mais
amplo do que o círculo de familiares e amigos que certamente já estão
prestigiando sua obra, publicada pela editora Amazônica Bookshelf que vem se
firmando no mercado editorial belemense.
Recomendo a conferência!
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